INTRODUÇÃO


Tudo começou lá pelos idos de 1989, onde eu lecionava matemática em uma escola de 2° grau. Era uma sexta-feira e os dois últimos períodos da noite sempre eram de matemática, física ou português, pois se colocassem outras disciplinas não ficava ninguém. Numa das aulas, em um intervalo, um aluno meu indagou-me sobre o que eu sabia de patentes. Prontamente respondi o que se aprendia na engenharia: o básico do assunto. O aluno me disse: “serve”. Ele trabalhava como vendedor em uma empresa do ramo, captando clientes que necessitassem do serviço em marcas e patentes. Convidou-me para conhecer a empresa e conversando com seu titular acabei aceitando o trabalho de redator em patentes. Gostei do assunto e dediquei-me: cursos, legislação, técnicas de redação e outras necessidades. Quando terminei e engenharia, eu e minha futura esposa, resolvemos montar uma empresa especializada no assunto. Ela ficaria com o administrativo (para o bem de todos, pois eu não sei nem pedir cheque em banco) e eu ficaria com a parte de patentes. Depois de duas décadas nesse trabalho e milhares de patentes redigidas, veio a ideia de selecionar as mais originais e publicá-las numa espécie de anedotário. O objetivo é mostrar a grande criatividade do brasileiro, que não deixa desejar a nenhum outro povo, além de divulgar o trabalho de marcas e patentes de um modo menos sisudo. Todas as patentes que foram citadas nesses contos já estão em domínio público. Os nomes dos inventores foram mudados para garantir privacidade e o meu pescoço. Minha esposa não quis aparecer e me ameaçou com direitos autorais caso divulgasse seu nome sem autorização.
Espero que apreciem essas pequenas histórias.

Escolha o assunto ao lado, em "Marcadores" e, divirta-se!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A PORTA II - O RETORNO

A porta: o retorno

Não tinha me recuperado ainda da patente da porta para banco, quando seu Antenor me telefonou.

Preciso conversar com o senhor, pois tenho outra invenção — disse o homem de modo seco, como era seu costume.

Ele morava no interior e vinha à capital somente para conversar comigo. Tentei convencê-lo a me adiantar do que se tratava, mas Antenor queria me ver. Não adiantava dissuadi-lo, pois o assunto era da mais alta gravidade. De certa maneira, gravidade tinha tudo a ver com o assunto.

— Está bem! Quando o senhor pode vir — disse para ele.

estou na rodoviária! — sentenciou seu Antenor. — Daqui a pouco estou .

Pensei em fugir, mas não seria educado e, além disso, o homem rasgava uma lista telefônica com as mãos, cheirava o fogo e botou para correr uma onça no berro. Ponderei isso e achei melhor recebê-lo.

— Cometi um engano — ponderou Antenor, logo que entrou no escritório.

— “Fazer essa invenção maluca” — pensei eu, mas disse calmamente:

— O senhor podia ser mais claro? — indaguei e fiquei na espera.

— Ocorreu-me uma situação que eu não tinha previsto — disse Antenor.

Que tipo de situação o senhor está se referindo? — perguntei.

Infelizmente, a essa altura eu estava curioso para descobrir qual seria essa outra invenção.

Um bandido que tenha entrado na agência bancária, onde uma das minhas portas está instalada, sabe da existência do alçapão embaixo dela — comentou o inventor.

Sim! E daí que o assaltante saiba da existência dessa armadilha, mais um motivo para não levar o assalto adiante — conclui.

Mas ele pode evitar cair no alçapão.

Como assim? — perguntei.

Seu Antenor foi logo me explicando a situação que ele tinha previsto:

— O bandido entra na agência pela porta giratória. Aciona o alarme e a porta tranca. Se o assaltante se negar a esvaziar os bolsos e, conseqüentemente, tiver de entregar a arma, sabe que o guarda vai abrir o alçapão e ele acabará por cair nele.

— Ah! E ?

— O vagabundo leva um pedaço de madeira e, antes do guarda abrir o alçapão, coloca a madeira sobre a abertura no chão. Assim, vai ficar suspenso no buraco sem cair nele.

Não acreditava em meus ouvidos, mas:

Seu Antenor, como é que alguém vai entrar numa agência bancária com um pedaço de pão na mão. Ele nem passa da porta — comentei.

Ele pode levar escondido no casaco — falou seu Antenor com a reposta pronta na língua.

Vi que não ia adiantar nada. Perguntei então:

— E qual seria a solução para esse problema?

Quando o guarda ver que o bandido está suspenso sobre o alçapão, entra em ação a outra parte da minha invenção.

Qual é essa outra parte seu Antenor? — indaguei muito curioso.

Junto à porta giratória tem uma abertura queacesso à parte onde está preso o ladrão sobre o alçapão. O guarda usa um garfo de metal para empurrar o bandido para dentro do buraco.

Não entendi! Com assim, um garfo?

— É, tem um garfo, como aqueles de mexer com feno. Aqueles de três dentes. O guarda usa-o para empurrar o bandido miserável para dentro da cela.

Juro que o homem me disse um troço desses. Somente Dante Alighieri na sua visão do inferno pensou numa tortura dessas. O guarda com um olhar de safado garfando o meliante pelas costas. O vagabundo cai no buraco empurrado pelo garfo.

Mas, mas, seu Antenor! Que doideira é essa. Não tem cabimento fazer isso.

Como que não! — exclamou o inventor com ar de interrogação. — O cara é bandido mesmo, quem é que vai se importar se ele se estrepar.

A essa altura eu estava sem ação. Não sabia nem o que dizer para o homem.

— Nenhuma agência bancária vai instalar uma porta com um sistema de tortura seu Antenor — ainda tentei ponderar com ele.

Quanto a isso você não se preocupe que eu dou um jeito. Conheço um pessoal dos bancos que vão me ajudar. O que eu quero saber é se tem alguma proibição em fazer à patente? — perguntou o inventor.

Bem! Não, quer dizer: não sei! Vou ter de estudar o caso.

— Verifica isso para mim! — exclamou ele — e vamos fazer à patente.

* * *

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