O telefone celular
— Inventei um celular! — disse o cliente. — Alô! Alô, engenheiro! Está me ouvindo? — repetiu.
Fiquei em silêncio alguns segundos. Tive ímpetos de contar para ele que o celular já tinha sido inventado, mas fiquei com pena de destruir algum sonho de infância e resolvi ouvir o resto da história.
— Celular! Sei. Desculpe-me, mas creio que não sei o seu nome?
— Joaquim!
No mínimo é gozação, eu pensei, mas fui adiante.
— Seu Joaquim, você vai ter de ser mais preciso. O que exatamente o senhor inventou.
— Um celular para a terceira idade!
— Ai, ai, ai! — exclamei para mim mesmo, isso vai render. — Diga-me o que tem de novo nesse seu telefone? — perguntei.
Seu Joaquim foi logo me explicando os motivos da invenção.
— Os mais velhinhos não estão acostumados com computador, telefone celular e outras coisas tecnológicas.
— Isso é verdade, a tecnologia muda às coisas com muita rapidez e os mais velhos têm dificuldade em acompanhar isso.
— Pois é! Pensando nisso resolvi criar um telefone que fosse mais fácil para eles.
— Legal! Mas qual é a novidade? — perguntei para o seu Joaquim.
— Os velhinhos têm sempre dificuldade em ver os números do telefone, pois eles são muito pequenos. Aí, eles têm de pegar os óculos para fazer uma ligação, mas às vezes não estão com os óculos por perto. Por isso criei um telefone que já vem com uma lente de aumento junto.
— Deixa-me ver se entendi direito! Junto com o telefone vem uma lente de aumento. Daquelas lentes redondas que as crianças brincam de queimar papel com o sol?
— Essas mesmo. Assim, os velhinhos não vão precisar procurar os óculos para ver os números do telefone.
Sabia que isso ia render, mas...
— Seu Joaquim! Mas isso não é uma invenção, pois basta comprar uma lente no comércio e carregar junto. No entanto, fica-se na mesma. É como ter de carregar os óculos.
— Não é isso não! — exclamou o inventor. A lente vem junto com o telefone acoplada nele. Basta abrir o compartimento e tirar a lente para usá-la.
— Como assim! Um compartimento?
— É! Uma gavetinha que se puxa de dentro do celular e se retira a lente de lá.
— Então não dá?
— Não é que não dê para fazer, mas creio que é pouco prático e a idéia pode não pegar.
— Ah! Mas tem mais uma coisa.
— O que é seu Joaquim.
— O telefone também é a prova d´água.
Silêncio meu do outro lado da linha.
— Seu Joaquim. Para que fazer um telefone à prova d´água.
— Para o telefone não estragar com a água.
— Eu sei o que é a prova d´água, mas qual a razão para se fazer isso.
— Para telefonar debaixo do chuveiro ou na chuva.
E aí. O que se faz numa hora dessas?
— Como o senhor pretende fazer isso? — perguntei.
— Colocar o telefone em um saco plástico selado — respondeu sem piedade.
— Não judia de mim seu Joaquim.
— O senhor não quer é me ajudar — respondeu o ex-cliente de modo seco.
O cara ainda ficou brabo comigo.
* * *