Feito o mate da manhã (é um hábito que aprendi com meu pai e levei adiante). Normalmente, é uma mateada de manhã e outra pela parte da tarde. A noite não é recomendável, a menos que se queira ir de hora em hora ao banheiro.
O cliente que tinha agendado uma visita logo de manhã já tinha telefonado confirmado-a, por isso, levei a cuia e a térmica para a sala de reuniões e fiquei esperando o sujeito.
Pontualmente, a secretária veio acompanhando o homem.
— O senhor quer um café — perguntou a moça.
— Não, se o engenheiro não se importar tomo um mate com ele — respondeu.
— Mas é claro, chimarrão é para ser compartilhado — respondi.
Falamos um pouco de tudo, do mormaço, política, da economia, resolvemos os problemas do país etc.
— Muito bom, mas em que posso ajudá-lo? — perguntei para o cliente.
— Tenho uma invenção que vai revolucionar o mundo! — afirmou ele com toda a convicção.
Confesso que não me surpreendi, pois de um certo modo todas as invenções revolucionam o mundo, e como já tinha visto tanta coisa....
— De que se trata? — perguntei.
— É um dispositivo que vai acoplado o motor do veículo e serve para economizar combustível — respondeu.
— Isso é muito bom, pois vem bem ao encontro da atual crise de combustíveis — comentei.
— A gente instala o dispositivo no carro e pode fazer a média, é certo, não dá outra: 30% a menos de gasolina e uns 25% a menos de álcool — concluiu o inventor.
— Funciona mesmo? — perguntei para ele um pouco cético. — Essas margens de economia são bem altas.
— Funciona assim mesmo — respondeu ele muito convicto.
— Então vamos fazer à patente — comentei, mas preciso que o senhor me forneça a descrição do dispositivo, desenhos, plantas etc. — Pode ser um desenho de apresentação, sem cotas, mas temos que detalhar o invento.
— A descrição do invento eu já lhe dei — respondeu.
— Não pode ser assim tão simples — comentei. Tem que detalhar mais.
— Ah! Então anota ai — retrucou.
Sabe quando a gente tem aquela sensação de que a coisa vai melar. Quando se come àquele xis que não devia. A voz interior que avisa: “não come isso”. A gente insiste e não dá outra: passa mal. Pois bem, quando o homem me disse isso, tive essa sensação.
— Não é melhor o senhor me passar esse descritivo por e-mail! — enfatizei.
— Não! — disse ele mais enfático ainda.
Resignado, peguei papel e caneta e fiquei esperando.
— Funciona assim: é um dispositivo que a gente acopla ao motor do veículo e serve para economizar combustível — disse o inventor.
Anotei isso, enchi um mate para mim e fiquei esperando pelo resto. O homem ficou me olhando e eu fiquei olhando para ele.
— O que mais? — perguntei.
— Com isso se tem uma economia de 25 a 30% de combustível, dependendo se for álcool ou gasolina — concluiu.
— Certo, isso o senhor já tinha dito — ponderei. E o que mais.
— Acho que o engenheiro não está entendendo — disse o inventor com um tom de ironia.
— Como assim? Trata-se de um economizador de combustível — retruquei.
— Isso mesmo — disse o cliente.
— Ta, mas como é que funciona esse economizador? — perguntei.
— Muito simples — respondeu o homem. Vai acoplado ao motor do carro. E ficou em silêncio.
Acomodei-me na cadeira, fiquei rabiscando a folha de papel com o olhar vazio. O silêncio chegava a ser constrangedor, pelo menos para mim, pois o inventor estava calmo, parecia iluminado.
Fiquei uns instantes sem saber o que fazer, mas a prática ensina certas coisas.
— O senhor tem que detalhar mais sua invenção — comentei — senão, não tenho como fazer o relatório.
Ele me olhou como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo e lascou:
— Detalhar mais ainda? — perguntou ele como se eu tivesse dito uma heresia.
A prática foi para as cucuias. Eu não sabia se o cara era louco, se me levantava e ia embora, ou continuava o meu trabalho. Prevaleceu a última opção.
— Não! Seu... Perdoe-me, mas como é o seu nome mesmo? — perguntei meio que me desculpando.
— José!
— Seu José, com essas informações eu não posso fazer o relatório — argumentei.
— Mas o senhor não é engenheiro? — perguntou-me.
Senti que a coisa ia de mal a pior, mas me contive. Não ficaria adequado ter um piti.
— É que essas informações não são suficientes para eu compreender como funciona o seu dispositivo — argumentei.
— Ah! Mas eu não vou lhe explicar tudo de novo — disse o quase ex-cliente, já se levantando e dirigindo-se à porta. Foi um prazer conversar com o senhor — disse seu José se despedindo e retirando-se em seguida.
Tinha certeza de que ele ia sair por aí dizendo que eu era um engenheiro de m... que não entendia de nada.
O pior de tudo: esfriou o meu mate.
O cliente que tinha agendado uma visita logo de manhã já tinha telefonado confirmado-a, por isso, levei a cuia e a térmica para a sala de reuniões e fiquei esperando o sujeito.
Pontualmente, a secretária veio acompanhando o homem.
— O senhor quer um café — perguntou a moça.
— Não, se o engenheiro não se importar tomo um mate com ele — respondeu.
— Mas é claro, chimarrão é para ser compartilhado — respondi.
Falamos um pouco de tudo, do mormaço, política, da economia, resolvemos os problemas do país etc.
— Muito bom, mas em que posso ajudá-lo? — perguntei para o cliente.
— Tenho uma invenção que vai revolucionar o mundo! — afirmou ele com toda a convicção.
Confesso que não me surpreendi, pois de um certo modo todas as invenções revolucionam o mundo, e como já tinha visto tanta coisa....
— De que se trata? — perguntei.
— É um dispositivo que vai acoplado o motor do veículo e serve para economizar combustível — respondeu.
— Isso é muito bom, pois vem bem ao encontro da atual crise de combustíveis — comentei.
— A gente instala o dispositivo no carro e pode fazer a média, é certo, não dá outra: 30% a menos de gasolina e uns 25% a menos de álcool — concluiu o inventor.
— Funciona mesmo? — perguntei para ele um pouco cético. — Essas margens de economia são bem altas.
— Funciona assim mesmo — respondeu ele muito convicto.
— Então vamos fazer à patente — comentei, mas preciso que o senhor me forneça a descrição do dispositivo, desenhos, plantas etc. — Pode ser um desenho de apresentação, sem cotas, mas temos que detalhar o invento.
— A descrição do invento eu já lhe dei — respondeu.
— Não pode ser assim tão simples — comentei. Tem que detalhar mais.
— Ah! Então anota ai — retrucou.
Sabe quando a gente tem aquela sensação de que a coisa vai melar. Quando se come àquele xis que não devia. A voz interior que avisa: “não come isso”. A gente insiste e não dá outra: passa mal. Pois bem, quando o homem me disse isso, tive essa sensação.
— Não é melhor o senhor me passar esse descritivo por e-mail! — enfatizei.
— Não! — disse ele mais enfático ainda.
Resignado, peguei papel e caneta e fiquei esperando.
— Funciona assim: é um dispositivo que a gente acopla ao motor do veículo e serve para economizar combustível — disse o inventor.
Anotei isso, enchi um mate para mim e fiquei esperando pelo resto. O homem ficou me olhando e eu fiquei olhando para ele.
— O que mais? — perguntei.
— Com isso se tem uma economia de 25 a 30% de combustível, dependendo se for álcool ou gasolina — concluiu.
— Certo, isso o senhor já tinha dito — ponderei. E o que mais.
— Acho que o engenheiro não está entendendo — disse o inventor com um tom de ironia.
— Como assim? Trata-se de um economizador de combustível — retruquei.
— Isso mesmo — disse o cliente.
— Ta, mas como é que funciona esse economizador? — perguntei.
— Muito simples — respondeu o homem. Vai acoplado ao motor do carro. E ficou em silêncio.
Acomodei-me na cadeira, fiquei rabiscando a folha de papel com o olhar vazio. O silêncio chegava a ser constrangedor, pelo menos para mim, pois o inventor estava calmo, parecia iluminado.
Fiquei uns instantes sem saber o que fazer, mas a prática ensina certas coisas.
— O senhor tem que detalhar mais sua invenção — comentei — senão, não tenho como fazer o relatório.
Ele me olhou como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo e lascou:
— Detalhar mais ainda? — perguntou ele como se eu tivesse dito uma heresia.
A prática foi para as cucuias. Eu não sabia se o cara era louco, se me levantava e ia embora, ou continuava o meu trabalho. Prevaleceu a última opção.
— Não! Seu... Perdoe-me, mas como é o seu nome mesmo? — perguntei meio que me desculpando.
— José!
— Seu José, com essas informações eu não posso fazer o relatório — argumentei.
— Mas o senhor não é engenheiro? — perguntou-me.
Senti que a coisa ia de mal a pior, mas me contive. Não ficaria adequado ter um piti.
— É que essas informações não são suficientes para eu compreender como funciona o seu dispositivo — argumentei.
— Ah! Mas eu não vou lhe explicar tudo de novo — disse o quase ex-cliente, já se levantando e dirigindo-se à porta. Foi um prazer conversar com o senhor — disse seu José se despedindo e retirando-se em seguida.
Tinha certeza de que ele ia sair por aí dizendo que eu era um engenheiro de m... que não entendia de nada.
O pior de tudo: esfriou o meu mate.
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