Personagens:
- Autor;
- Eu;
- Eu Mesmo;
- O Corpo.
Primeiro Ato
O Autor acorda de madrugada atormentado com uns pensamentos e não consegue mais dormir. Levanta e vai escrever. Encontra com os outros personagens com quem começa a conversar. O palco está bem iluminado. Lá fora começa uma chuva bem fina.
Autor: ― Caro leitor. Já é de algum tempo que gostaria de escrever uma peça de teatro, mas nunca tive coragem. Dessa forma, estou fazendo isso de madrugada para que ninguém me veja.
Eu: ― Tolinho, eu estou aqui. Não tens como fugir de mim.
Autor: ― Pelo menos é um só.
Eu Mesmo: ― Alto lá, eu também estou aqui.
Autor: ― Sempre soube da existência de vocês. Acho que tenho dupla personalidade.
Corpo: Mantém-se quieto. Apenas arruma-se na cadeira.
Eu: ― Nada como ter uma dupla personalidade. Pode-se discutir consigo mesmo.
Eu mesmo: ― É verdade! E o bom disso é que a dupla personalidade pode se dividir em dois ou mais sujeitos.
Eu mesmo dá uma risada cínica.
Autor: ― Não vou nem comentar uma frase dessas.
Eu: ― Isso me deu uma ideia!
Eu Mesmo: Qual!
Eu: ― Escrever sobre coisas da matemática.
Autor: ― Estás pensando em fazer o quê?
Eu:― Não sei bem ao certo, mas que tal criarmos um Cantinho da Matemática!
Eu Mesmo: ― Vou embora!
Eu: ― Por quê?
Eu Mesmo: ― Que coisa mais bicha: “Cantinho da Matemática”. Tem que ter umas pegadinhas cor-de-rosa feitas por um coelhinho branco de olhos vermelhos.
Autor: ― Vocês querem ficar quietos. Gostei da ideia.
Corpo: Levanta-se e vai ao banheiro.
Segundo Ato
O Corpo volta do banheiro mergulhado em conjecturas. Encontra “Eu” explicando para “Eu Mesmo” e para o “Autor” o escopo da sua ideia. O Corpo fica em pé ouvindo a explicação.
Eu: ― Você não tem mesmo jeito. Nunca teve mesmo fineza.
Eu Mesmo: ― Ei! Quem é essa tal de "Você".
Eu: ― Apenas estava me referindo a você mesmo. É modo de dizer.
Eu Mesmo: Ufa! Cheguei a pensar que havia mais alguém aqui. Isso aqui já está ficando lotado.
Autor: ― Parem com isso. Quero saber mais sobre esse tal “Cantinho”.
Eu: ― Pois é! Como o Autor fez matemática quem sabe nós não reservamos um espaço para escrever sobre curiosidade e outras coisas sobre esse tema.
Eu Mesmo: ― Isso parece ser bom, mas tinha que ter um nome tão aboiolado?
Autor: ― Se for o caso podemos escolher outro nome.
Eu Mesmo volta-se para Eu e pergunta: Tudo bem. O que “você” está pensando?
Eu: Vocês sabem que todos os números são interessantes. Por isso, penso eu, que podíamos explicar um pouco sobre o que isso quer dizer.
Autor: Magnífica ideia! Podemos demonstrar porque os números são interessantes.
Eu: ― Não cheguei a pensar em fazer uma demonstração formal.
Autor: ― Não precisa ser formal do ponto de vista lógico-formal. Apenas que seja interessante a prova, pois nem todo o leitor está familiarizado com matemática.
Eu mesmo: ― Então! O que estamos esperando?
O Corpo levanta-se e desce para comer uma banana.
Terceiro Ato
O Corpo entra pela direita do palco. Está comendo uma banana, coloca os óculos e volta a escrever. Como está frio pega o pala e se enrola nele. Puxa a cadeira para perto do computador e retoma o assunto. Os outros personagens chegam-se perto da mesa.
Autor: ― Quem vai começar?
Eu: ― Já que a ideia foi minha, começo eu: O primeiro número interessante é o zero.
Eu Mesmo: ― Alto lá! Zero nem pode ser considerado um número. Indica apenas a inexistência
Autor: Tudo bem, mas para fins didáticos podemos considerar como sendo um número.
Eu: ― Exatamente. Zero é interessante por conta disso. É um número que não é número.
Eu Mesmo: ― O número 1 também é um número interessante.
Autor: ― É verdade. Há quem diga que é o único número existente, pois os outros são derivações desse 1.
Eu: ― Além disso, tem toda uma simbologia associada a ele. Deus é a unidade de onde tudo deriva.
Eu Mesmo: ― Falou bonito!
Autor: ― Dois também é um número interessante, pois é o primeiro número primo par.
Eu: ― Para ser mais exato, é o único número primo par. Nenhum outro número primo pode ser dividido por 2.
Eu Mesmo: O número 3 é muito interessante, pois é o primeiro número primo ímpar.
Autor: ― É impressionante, pois depois do 3 todos os outros números serão ímpares.
Eu: ― Gosto do número 4, pois é o primeiro quadrado perfeito.
Eu Mesmo: ― Também pode ser considerado o número associado à matéria.
Autor: ― Não vamos misturas as coisas, pois nossa demonstração não pode descambar para o misticismo.
Ainda o Autor: ― O número 5 é particularmente interessante, pois provêm da soma do único número primo par com o primeiro número primo ímpar.
Eu: ― Além disso, nossas mãos somam dez dedos, origem da base 10 nas contas.
Nesse ponto o Corpo reclama que está cansado. Exige que os outros personagens se retirem para que ele possa descansar.
Quarto Ato
O Corpo faz um pequeno cochilo. Está a beira da ruína, mas entra em cena pelo lado esquerdo do palco. A mesa está arrumada com quatro cadeiras. O computador está ligado e o autor está zoando pela Internet. A madrugada corre solta.
Eu Mmesmo: ― Retomando de onde nós tínhamos parado, acho o número 6 muito interessante, pois é o primeiro número perfeito.
Autor: ― Tens toda a razão, pois 6 pode ser obtido a partir da soma de seus divisores inteiros excluindo ele próprio.
Eu Mesmo: ― Pois é, 1+2+3=6.
Eu: ― Bem, dando continuidade, temos que o número 7 é um número interessante, uma vez que resulta da soma do primeiro número primo ímpar com o quadrado do único número primo par.
Autor: ― Gosto também do número 8.
Eu Mesmo: ― Não vejo nada de interessante nele!
Autor: ― Como não! Ele é gerado de diversas maneiras. Cada uma delas mais interessante do que a outra. Por exemplo, é a soma do primeiro número perfeito com o único número primo par que existe.
Eu: ― Concordo. Só isso já lhe dá crédito para ser chamado de número interessante.
Eu Mesmo: ― O número 9, esse sim é importante! Além de ser quadrado perfeito do primeiro número primo ímpar é o último número que não é escrito pela repetição dos demais.
Autor: ― De fato. Todos os outros números são agrupamentos dos números de 0 até 9.
Eu: ― Bem, acho que essa demonstração enfoca bem o que eu queria com o “Cantinho da Matemática”.
Eu Mesmo: ― Ainda detesto esse nome.
Autor: ― Não enche!
Encerramento
O Corpo pende da cadeira para um lado, pois está muito cansado. Eu, Eu Mesmo e o Autor correm para impedir que o corpo caia no chão. O Autor acha por bem desligar o computador e por o Corpo para dormir. Eu Mesmo e Eu concordam com isso. A luz do palco vai diminuindo lentamente até ficar completamente escuro.
Os quatro atores vão para a ribalta na esperança de receberem os aplausos.
Fim
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