INTRODUÇÃO


Tudo começou lá pelos idos de 1989, onde eu lecionava matemática em uma escola de 2° grau. Era uma sexta-feira e os dois últimos períodos da noite sempre eram de matemática, física ou português, pois se colocassem outras disciplinas não ficava ninguém. Numa das aulas, em um intervalo, um aluno meu indagou-me sobre o que eu sabia de patentes. Prontamente respondi o que se aprendia na engenharia: o básico do assunto. O aluno me disse: “serve”. Ele trabalhava como vendedor em uma empresa do ramo, captando clientes que necessitassem do serviço em marcas e patentes. Convidou-me para conhecer a empresa e conversando com seu titular acabei aceitando o trabalho de redator em patentes. Gostei do assunto e dediquei-me: cursos, legislação, técnicas de redação e outras necessidades. Quando terminei e engenharia, eu e minha futura esposa, resolvemos montar uma empresa especializada no assunto. Ela ficaria com o administrativo (para o bem de todos, pois eu não sei nem pedir cheque em banco) e eu ficaria com a parte de patentes. Depois de duas décadas nesse trabalho e milhares de patentes redigidas, veio a ideia de selecionar as mais originais e publicá-las numa espécie de anedotário. O objetivo é mostrar a grande criatividade do brasileiro, que não deixa desejar a nenhum outro povo, além de divulgar o trabalho de marcas e patentes de um modo menos sisudo. Todas as patentes que foram citadas nesses contos já estão em domínio público. Os nomes dos inventores foram mudados para garantir privacidade e o meu pescoço. Minha esposa não quis aparecer e me ameaçou com direitos autorais caso divulgasse seu nome sem autorização.
Espero que apreciem essas pequenas histórias.

Escolha o assunto ao lado, em "Marcadores" e, divirta-se!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Telefone celular

O telefone celular

Inventei um celular! — disse o cliente. — Alô! Alô, engenheiro! Está me ouvindo? — repetiu.

Fiquei em silêncio alguns segundos. Tive ímpetos de contar para ele que o celular tinha sido inventado, mas fiquei com pena de destruir algum sonho de infância e resolvi ouvir o resto da história.

Celular! Sei. Desculpe-me, mas creio que não sei o seu nome?

— Joaquim!

No mínimo é gozação, eu pensei, mas fui adiante.

Seu Joaquim, você vai ter de ser mais preciso. O que exatamente o senhor inventou.

Um celular para a terceira idade!

— Ai, ai, ai! — exclamei para mim mesmo, isso vai render. — Diga-me o que tem de novo nesse seu telefone? — perguntei.

Seu Joaquim foi logo me explicando os motivos da invenção.

— Os mais velhinhos não estão acostumados com computador, telefone celular e outras coisas tecnológicas.

Isso é verdade, a tecnologia muda às coisas com muita rapidez e os mais velhos têm dificuldade em acompanhar isso.

Pois é! Pensando nisso resolvi criar um telefone que fosse mais fácil para eles.

Legal! Mas qual é a novidade? — perguntei para o seu Joaquim.

— Os velhinhos têm sempre dificuldade em ver os números do telefone, pois eles são muito pequenos. , eles têm de pegar os óculos para fazer uma ligação, mas às vezes não estão com os óculos por perto. Por isso criei um telefone que vem com uma lente de aumento junto.

— Deixa-me ver se entendi direito! Junto com o telefone vem uma lente de aumento. Daquelas lentes redondas que as crianças brincam de queimar papel com o sol?

— Essas mesmo. Assim, os velhinhos não vão precisar procurar os óculos para ver os números do telefone.

Sabia que isso ia render, mas...

Seu Joaquim! Mas isso não é uma invenção, pois basta comprar uma lente no comércio e carregar junto. No entanto, fica-se na mesma. É como ter de carregar os óculos.

Não é isso não! — exclamou o inventor. A lente vem junto com o telefone acoplada nele. Basta abrir o compartimento e tirar a lente para usá-la.

Como assim! Um compartimento?

— É! Uma gavetinha que se puxa de dentro do celular e se retira a lente de .

Então não dá?

Não é que não para fazer, mas creio que é pouco prático e a idéia pode não pegar.

— Ah! Mas tem mais uma coisa.

— O que é seu Joaquim.

— O telefone também é a provaágua.

Silêncio meu do outro lado da linha.

Seu Joaquim. Para que fazer um telefone à provaágua.

Para o telefone não estragar com a água.

Eu sei o que é a provaágua, mas qual a razão para se fazer isso.

Para telefonar debaixo do chuveiro ou na chuva.

E . O que se faz numa hora dessas?

Como o senhor pretende fazer isso? — perguntei.

Colocar o telefone em um saco plástico selado — respondeu sem piedade.

Não judia de mim seu Joaquim.

— O senhor não quer é me ajudar — respondeu o ex-cliente de modo seco.

O cara ainda ficou brabo comigo.

* * *