O grande alinhamento
Fui até o consultório do Dr. Dalcimar conforme tinha sido agendada à visita. Era uma tarde muito agradável de outono e me fez lembrar de uma prosa que tive com uma simpática velhinha sobre o tempo. Ela me disse:
— Meu jovem! A estação do ano que eu mais gosto é o outono.
— Por que? — perguntei intrigado, pois sempre acreditei que seria a primavera.
— O inverno no sul é muito frio e úmido, a gente se gripa, não pode sair de casa é um horror.
— Quanto a isso a senhora tem razão.
— O verão gaúcho é muito quente. Tem aqueles dias de mormaço que a gente parece que vai morrer de calor.
— Bem! Sobra à primavera — conclui de pronto.
— Não meu filho — disse-me ela — na primavera venta muito. A ventania só termina em finados.
Lembrando dessa conversa e do bom humor da velhinha, cheguei no consultório rindo.
A secretária do doutor me conduziu até uma sala de reuniões, onde fiquei esperando por uns instantes até a chegada do homem. Enquanto isso, os olhos passeavam pelas paredes e percebi a grande quantidade de diplomas que elas continham.
Dalcimar entrou esvoaçando na sala. Esvoaçando mesmo, pois àquela roupa que ele usava: não sei não...devia ser uma desgraça em dia de vento.
— Aceitas um chá de maçã verde, querido! — perguntou-me. O café deixa-nos muito agitado — concluiu.
— Pode ser!
Veio o chá e ele começou a me contar o motivo pelo qual me chamou.
— Quando estive em Machu Picchu, ao contemplar a cidade peruana, era como se estivesse voltando para casa. Senti uma força dentro de mim tão grande que quase desmaiei — disse.
— Olhei dentro da xícara de chá, concentrei-me e respondi: — É mesmo amiga, me conta o resto... (mentira, isso eu não disse). Limitei-me apenas a tomar o chá.
— Essa experiência mudou minha vida — continuou Dalcimar explicando.
— Sei!
— Depois desse encontro místico passei a contemplar o mundo de um modo mais holístico — continuou. Fiz diversos cursos sobre florais, cromoterapia, cristais, terapia de vidas passadas, astrologia etc.
— Hum! Mas, onde é que se encaixam as patentes? — perguntei.
— Já vou te introduzir o assunto!
Só olhei para ele.
Dalcimar continuou explicando:
— Os cristais têm propriedades importantes.
Pensei com os meus botões: certamente não tem nada a ver com cristalografia, mas... — Isso é certo! — respondi.
— As cores e os cristais têm grande influência no estado de higidez da pessoa, onde comportamentos psico-somáticos podem ser afastados pela simples manipulação adequada desses elementos.
Falou bonito heim! Também, esse monte de diplomas nas paredes tinha que servir para alguma coisa. Só pensei e continuei a espera do desenrolar dos fatos. Pedi mais chá, por questão de estratégia e porque estava bom mesmo.
— Sempre tratei meus pacientes com terapias separadas: cores, florais, aromas etc. Percebi que a união de todos esse princípio era mais eficiente por causa da unidade da diversidade.
O homem tava inspirado. Devia ser por causa do tempo. Minha avó dizia que: “véspera de chuva deixa as mariposas agitadas”.
Continuou:
— As propriedades terapêuticas de cada cor agem sobre os campos energéticos dos Chakras, corrigindo e reativando o campo vibratório celular — conclui Dalcimar. Já a aromaterapia consiste em tratar doenças com a ajuda de óleos essenciais dos vegetais — ponderou.
Pedi mais uma xícara de chá.
— Porque o vermelho aumenta a energia vital, o rosa ativa a energia amorosa, o laranja proporciona maior alegria, o azul acalma, o rosa forte desobstrui as veias, o branco é a inocência...
Nem perguntei nada, deixei o homem falar, pois do jeito que ele estava afetado, não ia adiantar mesmo.
— Desenvolvi um aparelho onde um feixe de luz incide em um cristal e se projeta ampliado.
Tive vontade de dizer que o laser já tinha sido inventado há muito tempo, mas...deixa assim.
— Podemos utilizar sempre um cristal branco, mudando a cor da luz que incide sobre ele, mediante luz vermelha, amarela etc., ou usando uma luz branca sobre umas placas de vidro colorido, para simular o efeito que teria a luz na cor desejada.
— Sei! Pedi mais chá.
— Como a luz esquenta o cristal, se pode colocar sobre um coletor umas gotas de óleos aromáticos — explicou Dalcimar, para que possamos combinar a cromoterapia com aromaterapia.
Dalcimar continuou discorrendo sobre os benefícios dessas terapias todas e, depois de terminar, perguntou:
— Pode-se fazer patente desse aparelho?
— Claro que sim. Não me parece haver nenhum impeditivo legal nisso, só vou verificar se não tem anterioridades — conclui.
— Ui! Que maravilha! — disse. Vamos fazer à patente.
Dalcimar me trouxe um aparelhinho azul profundo com escritos dourados, lindo. Ligava na luz.
Terminamos à conversa, peguei o aparelho de cromoterapia combinada a aromaterapia e me levantei para ir embora.
— Vou te deixar meu telefone celular, me liga.
Agradeci e me retirei rapidamente. Foi correndo para o escritório. Precisava urgentemente um banheiro. Depois de quatro xícaras de chá estava me mijando.
* * *